quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Animais problemas – Quem é o Problema?




Mestranda Lays Cherobim Parolin

Com o crescimento da população mundial e eventual aumento das áreas usadas para moradia, agricultura, pecuária e indústria, o homem tem estado cada vez mais em contato com animais silvestres. Contradição? Não! Esta proximidade que trato não é a sentimental, o vínculo afetivo. Mas sim a proximidade física com diversos grupos, que tem seu hábitat destruído ou severamente diminuído. Este estreitamento trouxe consigo uma série de doenças transmissíveis também ao homem, como a Leishmaniose, Toxoplasmose, Raiva, Leptospirose, Febre maculosa, entre muitas outras (Zoonoses e doenças emergentes). A raiva, apesar de ser associada principalmente aos morcegos hematófagos, pode ser transmitida por todos os mamíferos (Mapa da Raiva no Brasil).

O problema da proximidade dos animais com os humanos traz a tona também a questão dos animais sinantrópicos (aqueles que utilizam as habitações humanas como abrigo e fonte de alimento), que geram sujeira, desconforto, medo e na grande maioria dos casos, não se sabem como realizar o manejo, como por exemplo, as pombas (Pombal Londrina). Além delas, podem-se destacar os ratos, os morcegos (olha eles aí de novo!), gambás e até alguns primatas. No caso de ratos silvestres, a conhecida “ratada” (grande número de roedores se alimento das sementes de taquara, na época da seca da taquara, fato corrente de 30 em 30 anos) traz uma série de problemas traz consigo a possibilidade de muitas doenças, como a Hantavirose (Florescimento taquara) Além disso, as frequentes enchentes pelo país também trazem animais que não faziam parte do convívio humano, como as cobras (Enchentes cuidados). No caso das peçonhentas, a população ainda não sabe como proceder, ou ainda os centros de saúde não estão devidamente equipados para estas situações.

Mas não para por aí. Outras espécies silvestres entram em contato o ser humano, sejam nas áreas rurais ou urbanas, causam problemas. Exemplos não faltam, como no caso dos ursos-pardos na América do Norte, Europa e Ásia. A espécie é tratada como um problema, já que invade as cidades e casas em busca de alimento (Human impact on a brown bear population (Ursus arctos L.). Exemplos brasileiros também são muitos, como macacos que roubam comidas nas casas, tamanduás em jardins, onças que atacam o gado, gatos e cachorros-do-mato nos galinheiros, ou que mesmo adentram as cidades, como se tem visto nos noticiários (Animais selvagens na cidade). Como vemos, apesar do número crescente de casos como estes, a população não sabe como agir, causando grande stress no animal, podendo ocasionar injúrias ou até a morte. Isto se repete em diversas localidades do país, já que não se sabe como manejar estes animais ou como proteger a população de possíveis doenças.

E a pergunta que não quer calar, culpa de quem? Quem é o problema? Os animais não-humanos que tem seu ambiente cada dia mais reduzido e empobrecido, pressionado pela expansão dos animais-humanos? Ou nós, os homens, seres racionais, “superiores”, que estamos trazendo isto para nós? Acredito que esta questão seja de fácil resposta.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Espécies Invasoras: Caso do Caramujo Gigante Africano no Brasil


M.Sc. Eduardo Colley

A invasão biológica é o processo pelo qual uma espécie é introduzida fora de sua área natural de ocorrência, onde se adapta e passa a exercer dominância sobre os ecossistemas nativos causando efeitos negativos e gerando impactos. Estes organismos são denominados “Espécies Exóticas Invasoras”. A invasão biológica corresponde a um problema de dimensão global ligada ao transito da população humana que carrega com sigo diversos tipos de organismos vivos de maneira intencional ou acidental. Atualmente as invasões biológicas são consideradas a segunda maior causa da perda de biodiversidade, por causarem impactos ambientais que alteram os ciclos ecológicos e geram homogeneização da biota. Além disso, também são causadoras de diversos problemas de ordem econômica, social e de saúde pública. O impacto causado pelas espécies invasoras evidencia a ineficiência na prevenção das invasões, bem como na detecção e no controle dos casos diagnosticados. Apesar dos vários estudos sobre o tema, a falta de diretrizes para elaboração de programas de manejo, que conciliem a teoria ecológica e a prática conservacionista, tem impedido a efetivação das ações de manejo das espécies invasoras.

No Brasil, um caso de invasão atual e comum a muitos municípios do país, é o Caramujo Gigante Africano Achatina fulica Bowdich, 1822. O molusco é considerado uma das cem piores espécies exóticas invasoras do planeta, uma vez que seus hábitos generalistas favorecem a adaptação e a colonização de diferentes ambientes. O caramujo se tornou um sério problema ambiental e econômico nas áreas onde foi introduzido, devido à competição por alimento e espaço com a fauna nativa e à destruição de cultivos agrícolas. A espécie também é considerada um problema de saúde pública, por ser hospedeira de nematóides causadores da angiostrongilíase humana. A dispersão passiva, intencional ou acidental, é o principal meio de disseminação do caramujo. O caramujo africano foi introduzido no país ao final da década de 1980, como alternativa para criação comercial e consumo humano. Atualmente a espécie ocorre em populações elevadas na área urbana de vários municípios de todos os estados brasileiros menos o Rio Grande do Sul gerando preocupação dos órgãos gestores.

Um protocolo para o diagnóstico e monitoramento das populações nas áreas onde o caramujo se tornou invasor foi elaborado visando subsidiar e direcionar os planos de manejo com possibilidade de inferência da idade da população e determinação do melhor método de controle. No estado do Paraná o caramujo africano foi notificado em mais de 50% dos municípios. Ocorrem preferencialmente em áreas antrópicas, mas no município de Morretes já ocupam a vegetação nativa. O protocolo sugere que seja necessário analisar dados relativos ecologia e a biologia da população do caramujo e caracterizar o modo pelo qual a sociedade percebe o animal, além dos dados sobre a chegada da espécie ao local, os problemas decorrentes e métodos de controle utilizados pelas pessoas que convivem com o problema. Neste sentido também é importante realizar diferentes formas de amostragem, desde avaliações sazonais, até diagnósticos ecológicos rápidos. As informações disponíveis sobre organismos invasores como A. fulica servem como subsídio de conhecimento sobre a espécie em busca de prevenir que se tornem invasores e contribui para estabelecer diretrizes para a realização do manejo e controle nos locais onde já estão estabelecidos. Portanto, após o levantamento das informações a primeira etapa do manejo é diagnosticar o perfil de ocupação do invasor, que no caso de A. fulica está associado ao ambiente antrópico. Posteriormente é preciso escolher a melhor medida de controle a ser utilizada e adaptá-la a realidade local. Dentre as três formas existentes, a medida de controle biológico parece sedutora e vantajosa, pois utiliza o serviço da natureza reduzindo os custos de mão de obra e equipamentos. Porém no caso de A. fulica a ausência de um agente de controle biológico específico torna esta alternativa totalmente inviável. O controle químico de A. fulica também possui a vantagem de reduzir custos de mão de obra, no entanto a aquisição dos equipamentos e dos moluscicidas faz desta a alternativa mais cara. Outra desvantagem do controle químico é a falta de produtos específicos e a elevada toxicidade e permanência do veneno no ambiente, colocando em risco tanto a biodiversidade quanto à saúde humana. A coleta manual apesar de constituir o método mais antigo para controlar populações de moluscos terrestres é ainda o mais eficiente. Esta medida é composta pela catação dos moluscos e a integração entre o saneamento e a educação ambiental. A coleta manual é ainda no presente utilizada com sucesso para controlar e erradicar pequenas infestações de moluscos terrestres, mas de maneira direcionada também foi utilizada com êxito na erradicação de grandes infestações de A. fulica. Por tanto é a medida recomendada para solucionar o problema do caramujo africano.

O plano de controle de A. fulica e o sucesso da ação de manejo depende inicialmente do trabalho de profissionais especializados que possam avaliar e caracterizar o perfil da população do invasor. Em seguida, estes profissionais devem integrar a sociedade ao problema do caramujo invasor, pois a ocorrência do invasor associado ao ambiente antrópico faz da sociedade o principal instrumento na ação de controle. Os profissionais capacitados devem monitorar a captura, identificação e o sacrifício dos moluscos para evitar que os espécimes nativos sejam confundidos com o exótico. O monitoramento deve ser contínuo para evitar atitudes errôneas de controle que contribuam para mortalidade de espécies nativas, bem com para o destino final da espécie invasora, pois colocar os animais em sacos de lixo, enterrar ou descartar em rios não resulta necessariamente em morte e pode contribuir para sua disseminação. A comunidade acadêmica possui papel fundamental nestas ações, pois contribuem com novas pesquisas que permitem conhecer melhor a espécie invasora e buscar métodos alternativos ou novas tecnologias para o controle da praga. O trabalho de ação deve contar com a participação destas três parcelas da sociedade de forma conjunta, clara e freqüente.


COLLEY, E. & FISCHER, ML. 2009. Avaliação dos problemas enfrentados no manejo do Caramujo Gigante Africano Achatina fulica (Gastropoda, Pulmonata) no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia. V. 26, P. 674-683. Disponível na internet no endereço : http://www.scielo.br/pdf/zool/v26n4/v26n4a12.pdf

FISCHER, ML. & COSTA, LCM. 2010. O caramujo Gigante Africano Achatina fulica no Brasil. Curitiba: Champanhagt, 2010. Disponível na biblioteca da PUCPR.