sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Espécies Invasoras: Caso do Caramujo Gigante Africano no Brasil


M.Sc. Eduardo Colley

A invasão biológica é o processo pelo qual uma espécie é introduzida fora de sua área natural de ocorrência, onde se adapta e passa a exercer dominância sobre os ecossistemas nativos causando efeitos negativos e gerando impactos. Estes organismos são denominados “Espécies Exóticas Invasoras”. A invasão biológica corresponde a um problema de dimensão global ligada ao transito da população humana que carrega com sigo diversos tipos de organismos vivos de maneira intencional ou acidental. Atualmente as invasões biológicas são consideradas a segunda maior causa da perda de biodiversidade, por causarem impactos ambientais que alteram os ciclos ecológicos e geram homogeneização da biota. Além disso, também são causadoras de diversos problemas de ordem econômica, social e de saúde pública. O impacto causado pelas espécies invasoras evidencia a ineficiência na prevenção das invasões, bem como na detecção e no controle dos casos diagnosticados. Apesar dos vários estudos sobre o tema, a falta de diretrizes para elaboração de programas de manejo, que conciliem a teoria ecológica e a prática conservacionista, tem impedido a efetivação das ações de manejo das espécies invasoras.

No Brasil, um caso de invasão atual e comum a muitos municípios do país, é o Caramujo Gigante Africano Achatina fulica Bowdich, 1822. O molusco é considerado uma das cem piores espécies exóticas invasoras do planeta, uma vez que seus hábitos generalistas favorecem a adaptação e a colonização de diferentes ambientes. O caramujo se tornou um sério problema ambiental e econômico nas áreas onde foi introduzido, devido à competição por alimento e espaço com a fauna nativa e à destruição de cultivos agrícolas. A espécie também é considerada um problema de saúde pública, por ser hospedeira de nematóides causadores da angiostrongilíase humana. A dispersão passiva, intencional ou acidental, é o principal meio de disseminação do caramujo. O caramujo africano foi introduzido no país ao final da década de 1980, como alternativa para criação comercial e consumo humano. Atualmente a espécie ocorre em populações elevadas na área urbana de vários municípios de todos os estados brasileiros menos o Rio Grande do Sul gerando preocupação dos órgãos gestores.

Um protocolo para o diagnóstico e monitoramento das populações nas áreas onde o caramujo se tornou invasor foi elaborado visando subsidiar e direcionar os planos de manejo com possibilidade de inferência da idade da população e determinação do melhor método de controle. No estado do Paraná o caramujo africano foi notificado em mais de 50% dos municípios. Ocorrem preferencialmente em áreas antrópicas, mas no município de Morretes já ocupam a vegetação nativa. O protocolo sugere que seja necessário analisar dados relativos ecologia e a biologia da população do caramujo e caracterizar o modo pelo qual a sociedade percebe o animal, além dos dados sobre a chegada da espécie ao local, os problemas decorrentes e métodos de controle utilizados pelas pessoas que convivem com o problema. Neste sentido também é importante realizar diferentes formas de amostragem, desde avaliações sazonais, até diagnósticos ecológicos rápidos. As informações disponíveis sobre organismos invasores como A. fulica servem como subsídio de conhecimento sobre a espécie em busca de prevenir que se tornem invasores e contribui para estabelecer diretrizes para a realização do manejo e controle nos locais onde já estão estabelecidos. Portanto, após o levantamento das informações a primeira etapa do manejo é diagnosticar o perfil de ocupação do invasor, que no caso de A. fulica está associado ao ambiente antrópico. Posteriormente é preciso escolher a melhor medida de controle a ser utilizada e adaptá-la a realidade local. Dentre as três formas existentes, a medida de controle biológico parece sedutora e vantajosa, pois utiliza o serviço da natureza reduzindo os custos de mão de obra e equipamentos. Porém no caso de A. fulica a ausência de um agente de controle biológico específico torna esta alternativa totalmente inviável. O controle químico de A. fulica também possui a vantagem de reduzir custos de mão de obra, no entanto a aquisição dos equipamentos e dos moluscicidas faz desta a alternativa mais cara. Outra desvantagem do controle químico é a falta de produtos específicos e a elevada toxicidade e permanência do veneno no ambiente, colocando em risco tanto a biodiversidade quanto à saúde humana. A coleta manual apesar de constituir o método mais antigo para controlar populações de moluscos terrestres é ainda o mais eficiente. Esta medida é composta pela catação dos moluscos e a integração entre o saneamento e a educação ambiental. A coleta manual é ainda no presente utilizada com sucesso para controlar e erradicar pequenas infestações de moluscos terrestres, mas de maneira direcionada também foi utilizada com êxito na erradicação de grandes infestações de A. fulica. Por tanto é a medida recomendada para solucionar o problema do caramujo africano.

O plano de controle de A. fulica e o sucesso da ação de manejo depende inicialmente do trabalho de profissionais especializados que possam avaliar e caracterizar o perfil da população do invasor. Em seguida, estes profissionais devem integrar a sociedade ao problema do caramujo invasor, pois a ocorrência do invasor associado ao ambiente antrópico faz da sociedade o principal instrumento na ação de controle. Os profissionais capacitados devem monitorar a captura, identificação e o sacrifício dos moluscos para evitar que os espécimes nativos sejam confundidos com o exótico. O monitoramento deve ser contínuo para evitar atitudes errôneas de controle que contribuam para mortalidade de espécies nativas, bem com para o destino final da espécie invasora, pois colocar os animais em sacos de lixo, enterrar ou descartar em rios não resulta necessariamente em morte e pode contribuir para sua disseminação. A comunidade acadêmica possui papel fundamental nestas ações, pois contribuem com novas pesquisas que permitem conhecer melhor a espécie invasora e buscar métodos alternativos ou novas tecnologias para o controle da praga. O trabalho de ação deve contar com a participação destas três parcelas da sociedade de forma conjunta, clara e freqüente.


COLLEY, E. & FISCHER, ML. 2009. Avaliação dos problemas enfrentados no manejo do Caramujo Gigante Africano Achatina fulica (Gastropoda, Pulmonata) no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia. V. 26, P. 674-683. Disponível na internet no endereço : http://www.scielo.br/pdf/zool/v26n4/v26n4a12.pdf

FISCHER, ML. & COSTA, LCM. 2010. O caramujo Gigante Africano Achatina fulica no Brasil. Curitiba: Champanhagt, 2010. Disponível na biblioteca da PUCPR.